Fim da Primeira Trilha de Experiência Observe 2020

Mariana Pessôa
7 min readOct 9, 2020

Terceiro dia de Experiência Observe 2020 e ele começou com LGPD. Eu que estou migrando do Direito pra UX, começo meu segundo dia seguido de Conferência relembrando o mundo Jurídico, vejam só!

Um Case apresentado pelo advogado Felipe Santos abriu essa manhã com o tema “Adequação do processo de pesquisa à LGPD”. Isso porque se tem uma coisa que o pesquisador faz é trabalhar com os dados das pessoas.

Ele começou citando alguns exemplos de grandes sites e aplicativos que lidam com dados sensíveis e quais problemas eles apresentavam, possíveis soluções e quais providências as empresas de tecnologia deveriam adotar à partir da vigência da Lei de Proteção Geral de Dados.

A principal preocupação da LGPD é justamente proteger o tratamento dos dados pessoais e os direitos fundamentais de liberdade e privacidade dos usuários, na internet ou fora dela. De acordo com Felipe, daqui pra frente tudo gira em torno da transparência e do consentimento, isso já deveria existir antes, mas a lei veio justamente para impor essas condições.

Felipe contextualizou o assunto contando um breve histórico de como surgiu a preocupação com a proteção à privacidade e explicou que a lei recentemente divulgada tenta prever e modificar o fato danoso antes dele ocorrer, controlar as empresas de forma que elas protejam os dados dos titulares, que são seus verdadeiros donos.

O advogado esclareceu também que, no âmbito da LGPD, dado pessoal é todo tipo de dado que possa identificar a pessoa, enquanto o dado sensível é todo aquele que diz respeito ao foro mais íntimo, como religião, posicionamento político, dados de saúde, imagem e biometria; banco de dados, por sua vez, são todos os dados acumulados e armazenados que dizem respeito a outras pessoas. De acordo com ele, alguns princípios importantes devem ser seguidos ao tratar os dados: Finalidade, Adequação, Necessidade.

O usuário deve ter direito ao livre acesso de seus dados e ser consultado sobre a coleta, finalidade específica, forma e duração do armazenamento, prazo para o descarte dos dados e desistência de seu consentimento a qualquer momento. Um grande desafio que existe nesse contexto é fazer as empresas cumprirem os deveres com os dados, para isso estão previstas punições e multas pecuniárias, bloqueio ou eliminação dos bancos de dados.

Chegando à rodada de perguntas, Felipe falou sobre os cuidados que o pesquisador deve ter quando for coletar as informações em campo, sobre sua responsabilidade como guardião das informações dos usuários e sobre boas práticas para garantir a segurança dos dados. Quando questionado sobre a segurança do armazenamento em nuvem esclareceu que é preciso sempre avaliar o nível de proteção aos dados no servidor, para em uma eventual necessidade, dar conta da localização dessas informações ao usuário.

Uma prática muito comum entre os times é a de exibir vídeos dos usuários em reuniões internas e, sobre isso, Felipe esclarece que uma boa prática seria descaracterizar o usuário sempre que possível e, em todos os casos, avisar que o vídeo poderá ser exibido internamente para um grupo pequeno.

Na primeira palestra da noite, o tema foi “As diversas lideranças em pesquisa e design: autenticidade, visão e um bom plano nas mãos”, apresentada por Paula Macedo, Head de UX Research do Nubank.

Ela contou como construiu a sua liderança, o que foi aprendendo e o que ainda busca aprender em sua trajetória. Ela salientou que a liderança é algo que vai sendo construído, passinho a passinho, e que ser gerente é muito diferente de ser líder.

Elas esclareceu que a liderança muitas vezes chega antes do cargo e classifica a existência de 3 tipos de liderança: A primeira, liderança por influência, aquela que vem antes do cargo, ali no dia a dia do profissional, a segunda, a liderança de um projeto ou de uma ideia específica, muitas vezes subestimada, mas muito valiosa, diz ela. E a última, a gerência, o cargo de liderança efetivamente.

Paula disse que a liderança vai sendo construída de tal forma que quando o cargo chega, é consequência de todo um trabalho de autoconhecimento e de gerência da própria carreira, pois é impossível oferecer aquilo que não possuímos. Ela listou algumas perguntas que deveriam ser feitas a quem está trilhando esse caminho, como “por que quero ser líder?”, “quais são os estilos de liderança?”, “o que gosto nos líderes que estão à minha volta?” e “qual é a minha forma/estilo de liderar?”

Ela destaca que não adianta querer padronizar o comportamento, assim como pessoas são diferentes elas se tornam líderes diferentes. Porém, algumas atitudes de observação no caminho podem ser MUITO úteis:

Observe vários líderes para entender que tipo de líder você quer ser; Tenha empatia pelo seu líder para aprender com ele, mesmo que o aprendizado seja sobre o que NÃO fazer; Tenha espelhos: se veja pelo olhar do outro para ouvir, filtrar e extrair o que for útil; Adquira orgulho de si e de sua trajetória; Tenha planejamento, mas seja também flexível para lidar com os imprevistos; Trate as pessoas como você gostaria de ser tratado, traga humanidade para o trabalho; Tenha um ponto de vista. É importante ser técnico, mas tenha também um um discurso autêntico e saiba qual a sua verdade; Respeite o outro nas suas individualidades à si mesmo, não tente padronizar o comportamento do outro nem o seu, é assim que reconhecemos nossos princípios e valores humanos; Crie narrativas que exponham de forma precisa e clara quem você é; Valorize o ser humano assim como você valoriza o usuário; Rodeie-se de bons talentos e faça-os brilhar, goste de ver o outro brilhar; Crie uma relação de igualdade com as pessoas, reconheça a liderança do outro; Garanta uma boa comunicação.

Após essa lista, os participantes chegaram à rodada de perguntas encantados e a primeira foi sobre a senioridade por acidente. Paula esclareceu que, tá tudo bem não gostar e voltar atrás e tá tudo bem agarrar a chance, estudar, aprender, só não tá tudo bem se acomodar no cargo. Ela mencionou também o uso fundamental de Comunicação Não Violenta e fez uma diferenciação entre o líder de ux design e o líder de pesquisa.

De acordo com ela todo mundo pode ser líder, não existe dom. Mas sim, experiências, estímulos, treinamento. Depois, sobre colaboração, a palestrante esclareceu que, em sua percepção, nosso instinto é colaborativo. As pessoas só desaprenderam, mas quando estimuladas a isso ficam, na verdade, aliviadas.

“Minha escola é a do Design Thinking, que é sobre criar um ambiente propício para a colaboração.”

Ela mencionou alguns desafios e aprendizados de liderança gerados pela pandemia e ressaltou a importância do auto conhecimento e da inteligência emocional para conduzir outras pessoas nesse caminho. Falou que considera importantíssimo se cercar de pessoas diferentes, de comportamentos diversos e ressaltou, sobre síndrome do impostor, que todos passam por isso. A solução? Encontre alguém com que possa conversar.

Ela finalizou ressaltando que quis trazer uma perspectiva da história dela pra que os participantes pudessem olhar para suas próprias histórias.

Finalizando o dia, tivemos uma palestra de título inusitado, “Pesquisa: Uma relação poli amorosa”, com o Stefan Martins, Product Designer Manager na Creditas, ele é pesquisador e falou sobre a relação do time de produto com a pesquisa. Ele disse que a relação é poli amorosa por ser de todos.

Ele explicou que o designer pode fazer pesquisa mas o ideal é que não fique como responsável por ela, pois seu olhar acaba sendo de quem usa as informações para criar logo as soluções, ele propõe a reflexão sobre a importância que cada profissional envolvido com a pesquisa dá a ela e trouxe sua visão sobre os impactos de uma pesquisa feita pelo designer ou pelo Product Manager.

Ele também esclareceu como a pesquisa deveria acontecer em times em que a maturidade de UX é maior e apontou que, quando o trabalho fica mal distribuído os resultados de pesquisa acabam sendo desperdiçados. Num contexto ideal, o alinhamento entre o time é fundamental, é o pesquisador dever trazer os dados de maneira rápida, clara, objetiva, apresentando o mais importante primeiro para depois aprofundar nos assuntos, ou seja, sintetizar para democratizar.

Stefan também respondeu sobre como lidar com pesquisas muitas vezes orientadas à validação das ideias, que já nascem prontas, já começam errado. Apesar se ser algo muito comum, ele falou sobre derrubar as ideias pré concebidas aos poucos, mostrando vieses e problemas desse direcionamento e ressaltou que é muito importante para o pesquisador escolher as brigas certas para justamente conseguir mostrar o diferencial da pesquisa.

Ele esclareceu ainda a importância das pesquisas mais rápidas, que podem ser muito úteis para embasar pesquisas mais densas, mais encorpadas, no que ele sugere que o pesquisador comece com questionários e depois avance para pesquisas internas, dependendo do caso.

Ele finalizou falando sobre a relação dos pesquisadores e pesquisados, lembrando que são todos PESSOAS, com necessidades, compromissos, realidades e preocupações diferentes e deixa uma mensagem final:

“Criar a cultura de pesquisa depende de fazer mais pesquisa, mostrar vieses, mostrar pesquisas antigas, mostrar pelo exemplo para que todos deem mais valor para pesquisa”

A trilha de Observe dessa semana acabou e semana que vem tem mais. Pra quem me acompanhou nessa semana, eu quero agradecer e dizer que escrever sobre o primeiro grande evento de UX que participo após a migração foi um desafio que me coloquei, uma forma de ensinar e aprender, de absorver as informações e, ao mesmo tempo, colaborar com quem talvez não pode estar presente. Então, obrigada!

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Mariana Pessôa

UX Researcher no PagBank PagSeguro | Adoro aprender, ouvir histórias e compartilhar conhecimento